Futilidades
Às vezes sabe bem ter uma conversa absolutamente fútil, limitada à superficialidade do que o nosso mercado tem para oferecer. Claro está que eu refiro-me a estar com um amigo na conversa e andar de olho nas paisagens que passam na rua. E, quando falo de paisagens, falo de pessoas. Mas não é da futilidade da conversa que tive que venho para aqui falar. Até porque não foi a conversa que teve mais interesse, foi a conclusão.
Ao passar um rapaz, nitidamente gay (e nitidamente comprometido), o meu amigo vira-se e diz:
- Vês! Não percebo. Aquele rapaz é feio e está comprometido.
Eu, como é mais do que óbvio, nem me tinha apercebido de nada. Despistado como só eu consigo, perguntei-lhe:
- Como é que sabes que está comprometido?
- Não me digas que nem reparaste na aliança... Passou-te mesmo à frente.
Um àparte. Nós estávamos sentados na rua, nuns degraus, de forma que os nossos olhos estavam pela linha da cintura de muita gente. Ora, uma pessoa a andar tem a mão mais ou menos a meio da sua anca, ou seja, exactamente a meio do meu campo de visão. E continua ele:
- Não percebo! Aquele rapaz não deve nada à beleza e, no entanto, tem alguém. E tu, que até que és giro, nunca encontras alguém.
Ao que respondo:
- Sabes como é. Uns nascem com o cu virado para a Lua. Eu, quando nasci, devo ter nascido a fazer um pirete (apontar o dedo médio) à Lua e ter gritado "Fuck you, bitch!"
- Então e eu que já tive alguns namorados e nunca acertei? O que terei dito?
- Provavelmente algo do género de "Fuck you bitch and let the bitches fuck me!"
Enfim... Nada como conversas com asneiras e risos e superficialidades para alegrar o dia.