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reflectmyself

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Realidades

Arms, 24.07.07
Se me dissessem que o meu dia acabaria como acabou eu não acreditava.

Andei todo o dia a quiexar-me e a lamentar-me como um puto e com uma depressão em cima mas bastou-me o que me aconteceu para isso passar tudo.

Estava a dar um passeio para me distrair quando sou abordado por um senhor de idade. Pediu-me desculpa por me estar a incomodar e pediu-me um cigarro e esmola. Mas eis que o homem começa a chorar. Levei-o para a paragem do autocarro para se sentar e começamos a falar. Disse-me que tem 60 anos, que há 2 anos tinha uma boa vida mas que perdeu tudo. Em 2 anos perdeu a mulher, os filhos e os amigos e que estava a passar fome. Que tinha vergonha de dizer isso. Disse-lhe que, comigo, não precisava de ter vergonha porque também sei o que é passar fome. Levei-o a um café/restaurante lá perto e paguei-lhe o jantar. Neste momento, o arranjo do meu computador pareceu-me superficial.
Trocamos experiências. Falei-lhe da minha vida, como eu congelei a matrícula por causa da saúde da minha mãe, como ajudei a minha mãe quando o meu irmão se meteu na droga, como foi o divórico dos meus pais. Coisas que não diria assim à primeira. O homem começa-me a chorar lá no restaurante, dizendo que o filho não lhe fala, a mulher deixou-o e os amigos abandonaram-no. Tudo porque a empresa onde trabalhava como contabilista faliu e ele ficou sem nada. Que, durante toda a sua vida pensou ter tudo. Que as pessoas são hipócritas. E ficou sensibilizado por encontrar alguém, por mero acaso, que olhasse para ele como humano. Fiz-lhe companhia na paragem do autocarro durante uma hora, sempre conversando sobre as nossas vidas.

Confesso que o homem ajudou-me muito mais. Fez-me pensar. Ainda me faz pensar. Faz-me pensar no que realmente é importante. A vida não são carros, posses e essas coisas. Os amigos nem sempre são os que parecem. Os namoros nem sempre são como são. O que realmente importa e o que realmente conta lá no fundo, mas bem lá no fundo, é quem somos. E hoje (a Cat vai adorar ouvir isto) eu tenho orgulho em ser quem sou. E digo isto com todas as letras.

Fiquei sem o dinheiro para arranjar o meu pc, mas dei um ombro amigo a uma pessoa necessitada. E isso vale mais que tudo.

No fim o senhor disse-me que, para um rapaz com quase 27 anos, eu sou uma pessoa de mais valor que muitos. Isso tocou-me, mexeu comigo. Chorei. Soube bem chorar. E depois ele disse-me que sou um jovem de mentalidade muito avançada e muito humano e que não mude, porque são pessoas como eu que dão esperança à humanidade. Chorei e agradeci o senhor. E ele apanhou o autocarro, com um saquito cheio de comida para amanhã. E eu cheguei a casa sentindo uma paz e um bem-estar que não senti nunca.

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