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reflectmyself

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A importância em não saber

Arms, 09.08.08
Tenho a sensação que voltei ao "não saber quem sou" depois deste tempo todo. O que, na realidade, nem é assim tão mau o quanto as pessoas fazem crer.

Há uma certa sensação de paz em não se saber quem se é e o que se quer da vida... Como se a tempestade emocional, vinculada a uma personalidade, se tivesse passado e eu estivesse agora naquela fase de paz... como as manhãs depois de uma noite de tempestade, em que há um silêncio quase palpável, que nos envolve como se estivéssemos dentro de gelatina. Daqueles silêncios que nos entram na alma e silenciam tudo cá dentro. Uma espécie de "desligar o quadro geral" no fim de um dia de trabalho, silenciando as máquinas e desligando as luzes.

E começamos a avaliar tudo o que temos, o que conseguimos... tudo por que passamos. E passamos por tanta coisa em tão pouco tempo que não temos tempo de absorver tudo e evoluir. Até que chegamos à conclusão que já passámos por tanta coisa que evoluímos tanto em tão pouco tempo que saltámos alguns degraus sem termos dado por isso - que fomos adultos ainda antes de sequer termos dado por isso.

Quer dizer, olhando para trás, para tudo o que passei - e vendo algumas das minhas reacções - chego à conclusão que, dada a possibilidade de passar pelo mesmo agora, teria feito as coisas de forma completamente diferente. Teria-me comportado de forma diferente e teria, muito mais que definitivamente, imposto que se comportassem de forma completamente diferente para comigo. Não teria aturado com maior parte das coisas que aturei. Teria levantado o tom e reagido.
E, depois, nem há sequer aquele arrependimento de "eu devia de ter feito ou dito isto ou aquilo". Não há. Há apenas um sorriso tímido nas costas da nossa memória. Aquele sorriso que se tem quando descobrimos a solução (mais que óbvia) de um problema que nos tem atormentado há anos. Uma espécie de sorriso entre o orgulhoso por ter conseguido lá chegar e o embaraço de não ter apercebido disso antes, misturado com uma sensação maternal (ou paternal, whatever) qualquer não completamente descritível.
E nem há rancor para com as pessoas que nos trataram mal ou nos fizeram passar as passas do Algarve. Não. Há apenas uma espécie de indiferença não totalmente definida. Como se as pessoas do passado fossem apenas "pessoas do passado" e não "pessoas que me magoaram", apesar de o terem sido também mas não ser esse o motivo pela qual se destacam. E, de uma forma bastante estranha e, ao mesmo tempo, linear, há uma espécie de agradecimento silencioso para com essas pessoas. Como se estivesse grato por aquilo que me fizeram porque aquilo que foi feito serviu para eu me tornasse naquilo que sou hoje.

E aquilo que sou hoje é confortável. O que sou hoje serve-me como uma luva, como se fosse o mais perfeito que pode ser neste momento. Mesmo não sabendo quem sou e o que quero... Porque não sabendo ajuda-me a descobrir melhor quem sou na realidade. Não sou viciado por sentimentos ou comportamentos habituais da minha antiga personalidade. É como se eu tivesse deixado o meu eu para trás e eu tivesse percorrido este caminho todo e sentado - tal como no meu header - num banco de realizador e estivesse agora a contemplar a vastidão de todo o meu ser actual. Em que todas as experiências anteriores se descortinam à minha frente e consigo ver as ligações entre elas e os porquês das minhas antigas reacções e os momentos que pensava não ter aproveitado mas que não poderia aproveitar porque não estava preparado (quer psicologicamente, quer fisicamente) para isso. E, aquela sensação de não ter aproveitado a vida, de ter deixado as oportunidades passarem-me ao lado, desvanece porque apercebo-me da razão pela qual cada situação aconteceu como aconteceu e cada oportunidade foi descartada como foi. Isto tudo apesar de ainda existir aquela agulha de incómodo que me faz acreditar que não aproveitei realmente a vida. Não agarrei a vida pelos cornos nem lhe suguei o tutano. Não aproveitei ao máximo, porque não podia. Porque faltava algo que sempre me faltou e que, de repente, tenho.

E isso é auto-confiança, a auto-estima... e a noção da importância de eu não saber quem sou e o que quero da vida. O que, vendo bem as coisas, não é tão mau quanto fazem crer.

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