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reflectmyself

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Momento no metro

Arms, 03.04.08
O seu dia foi uma merda. Sim, uma merda! E isso é mesmo dizer pouco, porque deveria de existir um termo específico para categorizar o raio de dia de merda que ele teve. É que dizer que foi um dia de azar é pouco... quase nada.

Acordou, como fez todos os dias desde que o enfiaram neste planeta. Mal meteu o pé no chão torceu o pé. Mas quem torce um pé a sair da cama?! Mal sabia ele que era um sinal.

A resmungar coxamente (palavra inventada à pressão!) foi até ao banheiro tomar um banho. Pode ser que o mau humor - e, já agora, se não for pedir muito, a dor - lhe passe. Liga a torneira e a água vai aquecendo. E ele vai acalmando. A água atinge aquela temperatura ideal em que não está nem quente demais, nem frio de rachar. E ele vai acalmando. Champô para o cabelo e esfrega, esfrega e... Foda-se!! (é que é mesmo um grande "Foda-se") Falta a água. Mas como? Porquê? Quê? Rais'parta! Que se pode fazer? Procura alguma forma de retirar o champô da cabeça quando é atingido por um jacto de água BEM FRIA - de rachar - em cima. É que a água estava tão fria que ele nem conseguia gritar! Mas vá lá, pelo menos temos água.

Coxo e congelado ele sai do banho o mais furiosamente possível e vai vestir-se. Procura a farda por todo o lado e não o encontra. Até que se lembra que ainda a tem na máquina para lavar. Dasse!! Lá terá que usar a farda que está por lavar... Pode ser que não se note tanto o cheiro... (Ai, como adoramos iludir-nos!!) Retira a roupa do cesto e agita-a - como se isso fosse resolver o assunto - e vai passá-la a ferro (rezando para que não queime a roupa, com a sorte que tem tido até agora... qualquer cuidado é pouco). Lá acaba de engomar a roupa e coloca-a na mochila e sai de casa para o trabalho.

Vai a correr (relativamente) apenas para perder o comboio do metro e ficar à espera... Para ouvir anunciar que o metro está com "problemas técnicos e que o tempo de espera de cada comboio será mais demorado que o habitual". Mais demorado que o habitual, desta vez, foi algo como 30 minutos. Exactamente o suficiente para chegar atrasado ao trabalho e ouvir as patetices do seu superior.

Trabalho corre bem. Ao menos isso. Nada de sustos.

Almoço. Volta para casa. Apenas para descobrir que se esqueceu das chaves dentro de casa. Liga aos colegas de apartamento. Estão longe. Volta ao metro e vai ter com um deles. Tudo isto enquanto tenta almoçar alguma coisa pelo caminho. Consegue a chave.

Volta para o trabalho. Trabalha. O computador começa com problemas. A impressora está sem tinta. Ah, é de lazer... Então quem foi o idiota que enfiou um tinteiro na impressora e estragou esta merda?!! A fotocopiadora (daquelas do milénio passado. Ou seja, de 1996!) finalmente cedeu à idade que tinha e pifou com estilo: cuspindo papéis. Ou então imprimindo papel sim, papel não. Seja como for, a fotocopiadora entrou para a reforma e a impressora foi para as urgências. Seguida sem demora por um computador solidário. O computador central, sentindo a falta de um dos seus súbditos, entrou em depressão e iniciou uma greve geral. Ou seja, sistema informático foi-se todo abaixo. Tudo isto exactamente no momento em que ele carrega no botão "enter" para salvar um trabalho que levou - vá, sejamos exagerados! - três meses a escrever (há que contar com o tempo de pesquisa!).

Ao fim da tarde, depois dos azares no trabalho, volta para o metro. Exausto.

Chega a uma paragem de metro e senta-se no exacto momento em que começa uma música do James Blunt (ou seja, mas uma melodia depressiva) e olha em frente. Do outro lado está um estranho qualquer olhando para ele, com um ar igualmente desesperado. Ficam a olhar um para o outro como se não existisse mais ninguém na estação - e como se pensassem que ninguém iria reparar neles a olharem um para o outro. O outro sorri-lhe como se dissesse: Olha, afinal o meu dia foi igualmente merdoso ao teu! Não te stresses, amanhã será melhor! E então eis que ele sorri. Começa a sentir-se mais leve e descansado.

O comboio chega e cada um segue o seu caminho.

O outro rapaz segue a sorrir. Algo de muito estranho num dia destes... Terminou um namoro de dois anos. Descobriu o seu namorado na cama com outra. Sim, outra!! Houve discussões, choros, dramas dignas de novelas e muita louça e móveis partidos - "ah, e os CD's estúpidos dele, que fiz questão de quebrar como vingança!" Chegou ao metro e sentou-se, recebendo um sms do palerma do seu ex, dizendo coisas e tretas para o reconquistar. Olha em frente e repara num gajo jeitoso a sentar-se. Exactamente no momento em que começa a música do James Blunt, Carry you home. Uma música romântica. "Foda-se! Está a olhar para mim..." Sem se aperceber sorri-lhe. O do outro lado sorri-lhe. O comboio chega e cada um segue o seu caminho.

"O dia até que correu bastante bem. Terminar um namoro que me sufocava. Tive coragem para pensar em mim. E alguém reparou em mim. Estou melhor sem ele e consigo voltar a erguer-me." Pensa enquanto segue o seu caminho, a sorrir.

Desuso...

Arms, 03.04.08
Ele - Há quanto tempo é que não estás com alguém?
Eu - Há um ano.
Ele - Chiça! Tanto tempo...
Eu - Hã!? Eu até acho que não passou muito tempo...
Ele - Rapaz... Tu mexe-te que ainda cais em desuso!
Eu - o.O''

(Desde quando é que ser humano passou a ser objecto?)

(Já agora... Qual é o interesse em saber sobre a minha vida sexual?)