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reflectmyself

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Coisas por dizer

Arms, 02.12.07
Foi quando te foste embora que levaste aquele pedaço de mim contigo. O pedaço que me falta. O pedaço que devia de ter usado contra as tuas palavras, o meu amor-próprio. Roubaste-o. Ou levaste-o. E, por teres levado esse pedaço ínfimo, mas infinitamente maior de mim que tudo o resto se seguiu. A minha tristeza, a minha falta de coragem, a minha confiança, tudo. Um bocado tão pequeno de mim, mas tudo de mim. Levaste-o contigo. E as palavras que te devia ter dito embrulharam-se-me na garganta e lá ficaram, corroendo, ácidas, tudo o que restava da minha voz. Cada vez que te via, lá sentia o ácido gástrico subir-me à garganta - aquela vontade de vomitar tudo. E teria vomitado tudo se não fosse pelas palavras engasgadas na minha garganta. E o vómito ficava lá, corroendo junto às palavras. Mais palavras que nunca te disse. Mais coisas por dizer. Tudo porque agarraste firme ao amor-próprio que me roubaste. Como uma trela bem curta. Colocaste-me um açaime e eu, qual fiel melhor amigo, abanava o rabinho cada vez que te via, ansiando pelo aquele toque que uma vez usaste em mim. O toque que me levou à extinção, de êxtase a êxtase.
E como tu adoravas isso. A sensação que provocavas em mim. Eu era o teu bichinho de estimação sem amor-próprio. Pavoneavas-te para mim. Atiçavas. Afirmavas sempre que me amavas e dizias tudo o que eu queria ouvir. Para ti, eu era simplesmente aquele que gostavas de ter por perto quando te sentias sozinho. Porque o teu maior medo é ficar sozinho. Descobrires que afinal não és tão bonito quanto pensas. Que, afinal, não és tão inteligente quanto afirmas ser. Que afinal és um ser tão aborrecido, tão superficial - como anedotas: giro no início mas que depressa perdem piada. E como isso foi bom para ti. Ter-me ali, açaimado pelas coisas que ficaram por dizer e de trela pelo meu amor-próprio, para a tua diversão. E como deves ter gozado com a minha cara. Todo este tempo.

Mas sabes que mais? A trela que seguras agora não é o meu amor-próprio e o açaime que uso agora não são as palavras que nunca ouviste. Porque eu fartei-me. Já não sou esse boneco que achavas que eu era. Já não sou o teu bichinho de estimação, porque nunca levaste o meu amor-próprio. Encontrei-o perdido junto ao coração que te dei em tempos e descartaste. Pois, guardei-o. Era o meu coração! E, agora que tenho tudo o te dei de volta, posso dar-te tudo o que ficou por te dar. E estas são as coisas que tinha para te dizer: "Vou-me embora! Para nunca mais voltar! Sou muito mais que aquilo pensavas que eu era. E, sabes, és bem menos do que te julgava. Disseste que eu não te merecia. Enganaste-te. Tu é que não me merecias. Deixo-te, com a memória daquilo que nunca terás. Não sentirás falta disso agora. Mas, quando acordares e descobrires que todos com quem dormes não te conhecem e não te amam, e descobres que sempre estiveste sozinho, que sempre viveste o teu medo. Aí sim, sentirás que, comigo tudo foi diferente. E terás tudo menos aquilo que procuravas com tanto afinco. Vencer o teu medo. E eu estarei aqui, mas inexoravelmente longe de ti. Aliás, como sempre."

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